O homem costantemente é lançado de volta para si mesmo

O importnte é compreender, escrever é uma questão de buscar essa compreensão.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Praça da Piedade



Estou sentada em um banco na Praça da Piedade, é fim de ano, as pessoas passam com suas sacolas cheias de presentes, com pressa. E eu, ali... vendo as crianças da Piedade que pedem dinheiro na sinaleira. Seus pais, tios, parentes de longe observam os meninos. São crianças de todas as idades que entre o verde e o vermelho brincam.
Na praça tem o menor que engatinhar de um lado a outro, com um pedaço de pão que eventualmente ele leva a boca comendo um pedaço misturado as fezes dos pombos. Do seu nariz, escorre um grosso catarro verde. A mãe observa de longe Matias, sentada no chão. De quando em vez um transeunte desavisado quase passa por cima de Matias, outro o olha com desprezo.
Matias é uma das crianças mais lindas que já vi, ele é livre, dono daquele espaço.
Ele chega perto de mim, ele me toca com sua mãozinha, ele me olha e sabe que eu o observo. Desconcerto-me, o menino me causa ... medo, nojo, impotência. Seu olhar me rende e já o tenho nos braços. Seus irmãos se aproximam me convidam a brincar, me mostram uma nova forma de ver o mundo. Abandono minhas malas e aceito o convite.
Por instantes esqueci que era um observador no banquinho da praça, agora comungava uma experiência.
O pai chama os meninos para tomar banho, volto ao banquinho e os vejo na fonte. A mesma água que eles bebem, cozinham, se banham, é a água que um dos meninos está mijando, mas isso só é estranho para mim que estou no banquinho. O banho se completa com uma roupa limpa e uma água de cheiro. São 17hs e os meninos precisam ir para casa.
E fico de longe com esse olhar pequeno-burguês.